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A Fábrica de Espiões

May 21, 2025
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A Fábrica de Espiões
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Artem Shmyrev enganou a todos. O agente da inteligência russa parecia ter criado o disfarce perfeito: comandava uma bem-sucedida empresa de impressão 3D e morava em um apartamento de luxo no Rio de Janeiro, junto com a namorada brasileira e um gato felpudo, de pelagem laranja e branca, da raça Maine Coon.

Mas, principalmente, ele tinha uma certidão de nascimento e um passaporte autênticos, que legitimavam seu nome falso: Gerhard Daniel Campos Wittich, um cidadão brasileiro de 34 anos.

Após seis anos vivendo discretamente, ele estava impaciente para finalmente atuar como espião.

“Ninguém quer se sentir perdedor”, ele escreveu ele, em inglês falho, na mensagem de texto enviada em 2021 à sua esposa russa, também agente da inteligência. “É por isso que continuo trabalhando e mantendo a esperança”.

Ele não estava sozinho. Por anos, segundo investigação do New York Times, a Rússia usou o Brasil como ponto de partida para a elite de seus oficiais de inteligência, os chamados “ilegais”.

Em uma operação audaciosa e abrangente, esses espiões apagaram os rastros de seu passado russo. Abriram empresas, fizeram amigos, viveram romances — experiências que, com o tempo, se tornaram os alicerces de identidades inteiramente novas.

Grandes operações de espionagem russas já haviam sido descobertas no passado, inclusive nos Estados Unidos em 2010. Mas esta era diferente. O objetivo não era espionar o Brasil, e sim tornar-se brasileiro. Ocultados por identidades verossímeis, os agentes depois seguiam para os Estados Unidos, Europa ou Oriente Médio — onde, enfim, entravam em ação.

Na prática, os russos fizeram do Brasil uma linha de montagem para agentes secretos como Shmyrev.

Um abriu uma joalheria. Outra era uma modelo loira, de olhos azuis. Um terceiro foi aceito por uma universidade americana. Havia ainda um pesquisador brasileiro que conseguiu emprego na Noruega e um casal que acabou se estabelecendo em Portugal.

Até que tudo veio abaixo.

Nos últimos três anos, agentes da contra-inteligência brasileira investigaram esses espiões de forma silenciosa e metódica. Com um trabalho minucioso, descobriram um padrão que permitiu identificá-los, um a um.

Os agentes identificaram ao menos nove oficiais russos com identidades brasileiras, segundo documentos e entrevistas. Até hoje, seis deles eram conhecidos apenas pela polícia. A investigação já alcançou ao menos oito países, com o apoio de serviços de inteligência dos Estados Unidos, Israel, Holanda, Uruguai e outros aliados ocidentais.

Com base em centenas de documentos confidenciais e dezenas de entrevistas com policiais e agentes de inteligência em três continentes, o Times apurou os bastidores da espionagem russa no Brasil e da ofensiva silenciosa para desmantelá-la.

Desmontar a fábrica de espiões do Kremlin foi mais do que uma operação de rotina. Foi uma resposta aos prejuízos causados por uma década de ofensiva russa. Espiões russos ajudaram a derrubar um avião que decolou de Amsterdã em 2014, interferiram em eleições nos Estados Unidos, na França e em outros países, envenenaram adversários e planejaram golpes de Estado.

Mas foi a decisão do presidente Vladimir Putin de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, que desencadeou uma reação global contra espiões russos, até mesmo em locais onde, por anos, eles atuaram com relativa impunidade. Entre esses lugares está o Brasil, que historicamente manteve relações amistosas com a Rússia.

A investigação brasileira deu um golpe certeiro no programa de “ilegais” de Moscou. Desmantelou um grupo de agentes altamente treinados e difíceis de substituir. Ao menos dois foram presos; outros bateram em retirada para a Rússia. Com as identidades expostas, é improvável que voltem a atuar no exterior.

À frente dessa derrota extraordinária esteve a equipe de contra-inteligência da Polícia Federal brasileira, a mesma que investigou o ex-presidente Jair Bolsonaro por planejar um golpe.

De sua moderna sede envidraçada em Brasília, a equipe passou anos vasculhando milhões de registros de identidade em busca de padrões.

A investigação ficou conhecida como Operação Leste.

Fantasmas no Sistema

Em abril de 2022, poucos meses após a invasão russa da Ucrânia, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês) enviou uma mensagem urgente e inesperada à Polícia Federal brasileira.

Os americanos alertaram que um agente da inteligência militar russa havia aplicado para um estágio no Tribunal Penal Internacional na Holanda, justamente quando o órgão começava a investigar os crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.

O candidato a estagiário viajava com um passaporte brasileiro em nome de Victor Muller Ferreira. Com essa identidade, concluiu uma pós-graduação na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Mas, segundo a CIA, seu nome verdadeiro era Sergey Cherkasov. Barrado pela imigração holandesa, ele seguia em um voo com destino a São Paulo.

Com poucas evidências e apenas algumas horas para agir, os oficiais brasileiros não tinham base legal para prender Cherkasov no aeroporto. Por isso, durante dias de tensão, ele foi monitorado de perto enquanto se hospedava em um hotel em São Paulo.

Por fim, os policiais obtiveram um mandado e prenderam Cherkasov — não por espionagem, mas por uma acusação mais modesta: uso de documentos falsos.

Até isso se mostrou mais complicado do que imaginavam. Durante o interrogatório, Cherkasov manteve uma postura arrogante e insistiu que era brasileiro. E ele tinha documentos para sustentar sua versão.

Seu passaporte azul era idêntico ao de qualquer brasileiro. Ele tinha título de eleitor, como exige a lei, e até um certificado de conclusão do serviço militar obrigatório.

Todos os documentos eram autênticos.

“Não havia qualquer ligação entre ele e a ‘grande mãe’ Rússia”, disse um policial federal, que falou sob condição de anonimato, como os demais, já que a investigação está em andamento.

Apenas quando a polícia encontrou sua certidão de nascimento é que a história de Cherkasov e toda a operação russa no Brasil começaram a desmoronar.

No passado, espiões russos costumavam obter documentos usando nomes de pessoas mortas, muitas vezes bebês.

Desta vez, foi diferente. Os agentes confirmaram que Victor Muller Ferreira nunca existiu, embora ele tivesse uma certidão de nascimento autêntica.

O documento indicava que ele havia nascido no Rio de Janeiro, em 1989, filho de uma brasileira real, que morreu quatro anos depois.

Mas, ao localizar a família da mulher, os agentes descobriram que ela nunca teve filhos. Também não havia nenhum registro de alguém com o nome do suposto pai.

A descoberta acendeu um alerta. Como um espião russo conseguiu documentos autênticos com um nome falso? E, mais importante, se um fez isso, o que impediria outros de fazerem o mesmo?

Os agentes federais passaram a procurar o que chamaram de “fantasmas”: pessoas com certidões de nascimento legítimas, mas sem nenhum histórico no Brasil. Elas apareciam já adultas e rapidamente conseguiam documentos de identidade.

Para localizar esses fantasmas, os agentes buscaram padrões em milhões de registros de nascimento, passaportes, carteiras de motorista e números da previdência social.

Parte do trabalho foi automatizado, mas muitos bancos de dados no Brasil não são integrados nem digitalizados. Por isso, boa parte da investigação precisou ser feita manualmente.

A análise levou a Operação Leste a desvendar a ofensiva russa.

“Tudo começou com Sergei”, disse um alto funcionário brasileiro.

Agentes Especiais de Putin

Todo espião, independentemente do país que represente, enfrenta o mesmo desafio: criar uma identidade falsa que resista a um escrutínio minucioso.

Por gerações, agentes secretos usaram passaportes falsos, identidades roubadas e histórias cuidadosamente construídas. Com a era digital, em que quase tudo deixa rastros online, esse trabalho se tornou muito mais difícil.

Esse é um desafio especialmente sério para a Rússia. Embora todos os serviços de espionagem usem agentes secretos, a maioria depende de redes de informantes locais para fazer a coleta pesada de informações.

A Rússia é uma exceção. Desde o início da União Soviética, alguns agentes infiltrados se comprometeram com uma vida inteira de serviço sob identidades falsas.

O próprio Putin admitiu ter supervisionado espiões soviéticos enquanto servia como um jovem oficial da KGB na Alemanha Oriental, no fim da Guerra Fria.

“Essas são pessoas especiais, de qualidade especial, convicções e caráter especiais”, disse Putin em uma entrevista televisionada em 2017. “Deixar a própria vida para trás, abandonar os entes queridos, a família, o país, por muitos e muitos anos, para dedicar a vida ao serviço da pátria, não é algo que qualquer um consiga fazer. Somente os escolhidos podem fazer isso, e digo isso sem nenhum exagero”.

O Brasil parecia o lugar ideal para os espiões escolhidos por Putin construírem suas identidades. O passaporte brasileiro é um dos mais úteis do mundo, permitindo viajar sem visto para quase tantos países quanto o americano. Em uma nação tão multiétnica, é pouco provável que alguém com traços europeus e leve sotaque desperte suspeitas.

Embora vários países exijam comprovação médica para emitir certidões de nascimento, o Brasil faz uma exceção para nascidos em áreas rurais. Nesses casos, autoridades emitem o documento a quem declarar, na presença de duas testemunhas, que o bebê é filho de pelo menos um dos pais brasileiros.

O sistema também é descentralizado e vulnerável à corrupção local.

Com a certidão de nascimento em mãos, basta solicitar o título eleitoral, os documentos militares e, por fim, o passaporte.

A partir daí, o espião pode viajar para quase qualquer lugar do mundo.

A Pista Decisiva

Um dos primeiros nomes a chamar a atenção dos investigadores foi Gerhard Daniel Campos Wittich. A certidão indicava seu nascimento no Rio de Janeiro em 1986, mas ele teria surgido do nada em 2015.

Quando os agentes começaram a investigá-lo, Shmyrev tinha criadocriou uma identidade tão convincente que nem a namorada nem os colegas desconfiavam dele. Falava português perfeitamente e atribuía o leve sotaque à infância passada na Áustria.

Ele parecia totalmente dedicado à 3D Rio, empresa que criou do zero e pela qual demonstrava verdadeiro envolvimento, segundo ex-colegas. Passava horas no 16º andar de um arranha-céu no centro do Rio, a um quarteirão do Consulado dos Estados Unidos. Às vezes, dispensava os funcionários para trabalhar sozinho.

“Ele era viciado em trabalho”, disse Felipe Martinez, ex-cliente e amigo do russo conhecido como Daniel. “Ele pensava grande, sabe?”

A empresa despontou, segundo um ex-funcionário, conquistando clientes como a Rede Globo e o Exército brasileiro. (O funcionário, que pediu anonimato, afirmou que Shmyrev nunca foi convidado a entrar em uma base militar).

Apesar disso, amigos e colegas notavam que ele tinha peculiaridades. Ele jamais deixava o computador conectado à internet quando não o estava usando. Além disso, parecia dispor de mais dinheiro do que sua empresa poderia justificar.

Shmyrev fez viagens repentinas à Europa e à Ásia. Brincava dizendo que fazia “espionagem industrial” contra concorrentes. Às vezes, se passava por cliente dessas empresas e chegou a enviar um funcionário para estagiar em uma rival e repassar informações.

Ele também parecia ter pavor de câmeras e evitava ser fotografado. Um ex-funcionário chegou a brincar que ele poderia ser “procurado pela Polícia Federal”.

Shmyrev entrou em pânico quando um jornal local publicou sua foto ao lado do prefeito do Rio na inauguração de um centro de tecnologia, lembrou Martinez.

Mas, segundo os amigos, tudo isso só fez sentido em retrospecto.

No íntimo, Shmyrev se sentia entediado e frustrado com a vida de agente secreto.

“Nenhuma realização concreta no trabalho”, escreveu Shmyrev em uma mensagem de texto para a esposa. “Já faz dois anos que não estou onde deveria estar”.

Sua esposa, Irina Shmyreva, também espiã russa e então vivendo do outro lado do mundo, na Grécia, não foi compreensiva. “Se você queria uma vida familiar normal, então fez uma escolha fundamentalmente errada”, respondeu.

Mas ela reconheceu que a vida que levavam estava longe do que imaginavam. “Sim, não é como foi prometido, e é ruim”, escreveu ela. “Eles basicamente enganam as pessoas para entrarem nisso, e vejo isso como algo ruim. É desonesto e nada construtivo”.

As mensagens de texto fazem parte de um dossiê compartilhado com serviços de inteligência estrangeiros e acessado pelo Times. Elas foram enviadas em agosto de 2021 e recuperadas posteriormente do telefone de Shmyrev.

Seis meses após o envio das mensagens, a Rússia invadiu a Ucrânia. De repente, serviços de inteligência em todo o mundo passaram a agir juntos, priorizando a interrupção da espionagem do Kremlin. A vida dos espiões russos no exterior virou de cabeça para baixo.

Primeiro veio Cherkasov, o estagiário preso semanas após a invasão. Depois, Mikhail Mikushin, investigado no Brasil e detido ao aparecer na Noruega. Dois espiões russos foram presos na Eslovênia, onde viviam sob identidades falsas de argentinos.

No fim de 2022, os investigadores brasileiros se aproximavam de Shmyrev.

Os agentes federais haviam desmontado a identidade de Gerhard Daniel Campos Wittich, além de descobrir que a mulher registrada como mãe estava morta e nunca teve um filho com esse nome. O pai não foi localizado.

No fim de dezembro, os agentes tinham quase certeza de que haviam descoberto um espião russo infiltrado.

Se Shmyrev estava apreensivo, não demonstrava. Em uma tarde de dezembro, almoçou com um colega no movimentado bairro de Botafogo no Rio de Janeiro. Parecia tranquilo e disse que estava prestes a embarcar em uma viagem de um mês à Malásia, segundo um funcionário que falou sob condição de anonimato.

Ele deixou o país poucos dias antes de a Polícia Federal desvendar sua identidade. Os agentes ficaram incrédulos: depois de tanto esforço, ele escapou.

Shmyrev tinha uma passagem de volta marcada para 2 de fevereiro de 2023. Os agentes então conseguiram mandados de prisão e ordens de busca para seus endereços. Quando ele aterrissasse de volta no Brasil, estariam prontos para agir.

Mas ele nunca mais voltou.

‘Existe Algo Pior Que Ser Preso?’

Shmyrev não foi o único espião russo a escapar dos brasileiros. Sempre que os agentes identificavam um nome, parecia que já era tarde demais.

Um casal na faixa dos 30 anos, que usava os nomes Manuel Francisco Steinbruck Pereira e Adriana Carolina Costa Silva Pereira, mudou-se para Portugal em 2018 e depois desapareceu.

Outro grupo estaria no Uruguai. Maria Luisa Dominguez Cardozo, com certidão de nascimento brasileira, depois conseguiu um passaporte uruguaio. Havia também um casal: Federico Luiz Gonzalez Rodriguez e sua esposa, Maria Isabel Moresco Garcia, espiã loira que se apresentava como modelo.

Por um tempo, o alvo mais promissor dos agentes brasileiros foi o joalheiro Eric Lopes. A polícia descobriu que ele era, na verdade, o espião russo Aleksandr Utekhin.

Sua empresa foi destaque em 2021 no programa Empresários de Sucesso, que o apresentava como “especialista em pedras preciosas”.

A apresentadora disse ao Times que Lopes pagou pela exposição. Segundo ela, Lopes era estranho, falava um “português de gringo” e se recusou a aparecer diante das câmeras. A funcionária que foi ao ar em seu lugar sabia tão pouco da empresa que ele precisou soprar as falas para ela.

“Pensei: ‘Uau, será que está acontecendo alguma coisa?’”, disse a apresentadora.

Quando os agentes federais chegaram às lojas, não encontraram nenhum sinal de Lopes, nem do ouro nem das pedras preciosas que ele anunciava no Instagram.

A loja que ele mantinha em Brasília hoje abriga uma seguradora. O endereço em São Paulo, em frente a um batalhão da Polícia Militar, é ocupado por uma imobiliária.

Investigadores acreditam que a empresa servia como fachada para reforçar suas credenciais brasileiras. Uma fonte da segurança de um país ocidental afirmou que, após deixar o Brasil, Utekhin passou um período no Oriente Médio. Seu paradeiro é desconhecido, mas eles suspeitam que Utekhin e outros tenham retornado à Rússia.

Não está claro se algo específico motivou o retorno dos espiões. Com os holofotes voltados para a Rússia após a invasão da Ucrânia, especialistas acreditam que as autoridades russas tenham considerado o mundo perigoso demais para eles.

Os agentes brasileiros à frente da Operação Leste passaram incontáveis horas identificando nomes, mas ainda não tinham nenhum caso concreto — apenas a acusação de uso de documento falso contra Cherkasov.

Eles compartilharam as descobertas com agências de inteligência de outros países, que cruzaram os dados com registros de agentes russos conhecidos. Em alguns casos, isso permitiu aos brasileiros associar nomes reais às identidades falsas.

Por exemplo, o casal que vivia sob o sobrenome Pereira e morava em Portugal foi identificado como Vladimir Aleksandrovich Danilov e Yekaterina Leonidovna Danilova, segundo dois oficiais de inteligência ocidentais.

O Brasil costuma manter uma postura neutra em disputas geopolíticas. Mesmo após a invasão da Ucrânia, preservou relações cordiais com Moscou. Por isso, o uso do território brasileiro para espionagem em larga escala pelo Kremlin foi visto como traição. As autoridades brasileiras responderam com firmeza.

“Simplesmente paramos para pensar: ‘Existe algo pior do que ser preso como espião?’”, disse um alto investigador brasileiro. “É ser exposto como um espião”.

Com isso, os investigadores tiveram uma ideia audaciosa: usar a Interpol, maior organização policial do mundo, para desmascarar os espiões de Putin.

Foi uma vingança irônica. Por anos, Putin manipulou os bancos de dados da Interpol para perseguir dissidentes e opositores.

Em outubro de 2024, os agentes brasileiros emitiram avisos azuis, usados para solicitar informações sobre pessoas, aos 196 países membros da Interpol. Os alertas continham nomes, fotos e impressões digitais dos russos Shmyrev e Cherkasov.

A Interpol, por ser um órgão independente, não atua em casos políticos como os de espionagem. Para contornar essa restrição, os oficiais brasileiros alegaram que os russos eram investigados por uso de documentos falsos.

O Uruguai emitiu alertas semelhantes, vistos pelo Times, contra suspeitos de espionagem russa que chegaram ao país com identidades brasileiras. Segundo oficiais, seus nomes verdadeiros eram Roman Olegovich Koval, Irina Alekseyevna Antonova e Olga Igorevna Tyutereva.

O casal Koval e Antonova deixou o Brasil repentinamente em 2023, voando para o Uruguai, segundo investigadores. A última localização conhecida de Olga Tyutereva, segundo um alto funcionário, foi a Namíbia.

Os avisos da Interpol não incluem os nomes verdadeiros, mas trazem fotos e outras informações de identificação. Com as identidades registradas em bancos de dados policiais e os nomes reais sinalizados por serviços de inteligência, esses agentes dificilmente voltarão a atuar como espiões no exterior.

Dos espiões envolvidos, apenas Cherkasov continua preso. Ele foi condenado a 15 anos de prisão por falsificação de documentos, pena depois reduzida para cinco.

Em uma aparente manobra para repatriá-lo, o governo russo alegou que ele era um traficante de drogas procurado e solicitou à Justiça sua extradição.

Mas os policiais brasileiros foram rápidos. Se Cherkasov era mesmo traficante, argumentaram os promotores, era essencial mantê-lo preso por mais tempo para que a investigação policial pudesse avançar.

Em outras circunstâncias, ele já teria sido libertado. Mas continua detido em uma prisão em Brasília.

‘Vocês Vão Ouvir Falar de Mim’

Após deixar o Brasil, Shmyrev manteve contato com amigos e a namorada brasileira, mas no início de janeiro de 2023 parou de responder às mensagens.

“Passaram-se semanas e não sabíamos o que fazer”, disse seu amigo Martinez.

A namorada de Shmyrev pediu ajuda para encontrá-lo em um grupo de Facebook chamado Brasileiros em Kuala Lumpur.

“Começamos um verdadeiro trabalho de detetive”, disse Martinez. “Fizemos buscas na internet, ligamos para delegacias, embaixadas, hotéis em Kuala Lumpur para tentar encontrá-lo. E não conseguimos”.

Com a ausência de Shmyrev no voo de volta ao Brasil, a polícia entrou em ação. Os agentes encontraram dispositivos eletrônicos com informações pessoais cruciais, incluindo mensagens trocadas com sua esposa, a espiã russa. Ele também deixou US$ 12 mil em dinheiro guardados em um cofre.

Eram indícios de que ele pretendia voltar. Como nos outros casos, ainda não se sabe por que ele partiu nem por que nunca voltou. Foi nessa época que sua esposa russa abandonou repentinamente o posto de espionagem na Grécia. Mais tarde, acabou desmascarada por autoridades locais.

Apesar de tudo, os amigos dizem sentir falta de Shmyrev.

“Às vezes, penso que um dia vou até lá, a São Petersburgo”, disse Martinez. “Vou estar no balcão, pedir uma vodca… e, de repente, ele estará do outro lado”.

Em sua imaginação, Martinez acena com a cabeça para Shmyrev, que retribui o gesto.

O último contato conhecido de Shmyrev com o Brasil foi uma ligação para a namorada, já após sua partida. Segundo relatado a Martinez, o amigo estava triste, talvez até chorando.

“Vocês vão ouvir falar de mim, mas precisam saber que nunca fiz nada muito grave. Nunca matei ninguém, nem nada parecido”, ele teria dito, segundo Martinez.

“Meu passado me alcançou”, ele teria completado.

Rodrigo Pedroso colaborou com a reportagem desde São Paulo.

Michael Schwirtz is an investigative reporter with the International desk. With The Times since 2006, he previously covered the countries of the former Soviet Union from Moscow and was a lead reporter on a team that won the 2020 Pulitzer Prize for articles about Russian intelligence operations.

Jane Bradley is an investigative reporter on the international desk. She is based in London, where she focuses on abuses of power, national security and crime, and social injustices.

The post A Fábrica de Espiões appeared first on New York Times.

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